A visão do mundo trabalho e da vida polícia sob a ótica dos sindicalistas. Este é o propósito do novo projeto do Declatra, o “Fala Dirigente”, que publicará entrevistas com nomes relevantes do sindicalismo.
Na primeira desta série de entrevistas o Declatra ouviu a presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná, Regina Cruz. Ela fala sobre o crescimento da CUT, os desafios da classe trabalhadora e a necessidade da integração entre os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.
Acompanhe a entrevista.
1 – Quais as diferenças da CUT de hoje para a Central de anos atrás?
Nossa história de luta mostra a nossa unidade. Ainda durante a ditadura militar, no começo dos anos 80, tínhamos um período muito duro para os trabalhadores. Em 1983 foi criada a CUT com o objetivo de organizar e promover esta unidade na classe trabalhadora, o que constitui-se em um grande avanço em todos os sentidos.
Nestes últimos 30 anos estamos organizando os trabalhadores do campo e da cidade com a nossa maior marca: as mobilizações de luta e neste período construímos a maior central sindical do Brasil.
O nosso desafio agora, além de seguir fortalecendo este aspecto, é implantar e fazer uso das novas tecnologias na CUT e nos seus sindicatos, aliando as práticas que marcaram a história da Central com grandes mobilizações, mas também, fazendo uso destas novas tecnologias para atrair as novas gerações para o conjunto da classe trabalhadora, para que eles também se identifiquem como trabalhadores e possam participar de nossas lutas.
2 – Quais as principais bandeiras da CUT?
Quanto tratamos da defesa dos trabalhadores e trabalhadoras sempre há lutas e bandeiras que precisam ser encampadas. Mas eu destacaria três em especial. A primeira é a luta contra a terceirização para evitar uma precarização ainda maior das condições de trabalho, sem contar na flexibilização dos direitos já conquistados. A segundo é a regulamentação da convenção 151 da OIT e a a terceira é fortalecer o diálogo entre os trabalhadores do campo e da cidade.
Vamos a elas: o Projeto de Lei do deputado Sandro Mabel, que tramita no Congresso Nacional, é um verdadeiro crime, um atentado contra os direitos dos trabalhadores. Caso seja aprovado veremos um grande retrocesso nas conquistas da classe trabalhadora. Por isso a CUT encabeça uma grande mobilização contra este projeto de lei.
Outra definição muito importante é a regulamentação da convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata das negociações coletivas no ambiente do serviço público. A CUT mantém intenso diálogo com o Governo Federal para que este regulamentação ocorra da maneira mais rápida possível, uniformizando os direitos dos trabalhadores do setor privado e público.
O diálogo entre os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade também tem sido uma bandeira muito forte dentro da Central. Estamos envolvendo diversos atores dentro de uma agenda programada para garantir esta unidade. Neste final de semana, por exemplo, tivemos um grande evento em Francisco Beltrão para discutir o meio ambiente e promover esta integração.
3 – E as formas de fazer as lutas? Continuam as mesmas ou mudaram?
Precisamos nos adaptar, porém, sem perder as nossas raízes. Antigamente os instrumentos e as dificuldades para nos comunicarmos eram muito maiores. Hoje em dia, com as novas tecnologias, é possível facilitar esta comunicação.
Um bom exemplo destas dificuldades são os meios de comunicação sindical. Se anteriormente só tínhamos o tradicional jornal, hoje em dia há uma gama de possibilidades que as novas tecnologia proporcionam.
A CUT mantém um programa de televisão semanal de entrevistas que é exibido toda terça-feira na CWB TV, que envolve um diálogo com os sindicatos e federações, possibilitando uma abertura para os trabalhadores observarem uma nova forma de comunicação sindical. Isso além dos nossos meios de comunicação digitais.
Contudo, é claro que não podemos perder a essência de forma alguma. Nada substituí mobilização nas ruas, com o povo, os trabalhadores e trabalhadoras unidos, fazendo pressão nos patrões e governantes. Esta fórmula sempre foi a marca marca da CUT nestes 30 anos. A CUT sempre esteve, está e estará nas ruas.
4 – Em relatório recente da ONU, a CUT foi tratada como um exemplo para os trabalhadores no mundo. Por quê?
Este relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) avaliou que e a CUT e os sindicatos setoriais resistiram, ao longo dos anos, aos ataques contra os direitos dos trabalhadores e formaram uma resistência que impediu a flexibilização das conquistas. Esta resistência construiu-se por intermédio das greves mobilizações e protestos, além das negociações, afinal de contas, não basta simplesmente protestar. É preciso saber a hora de pressionar, de recuar e de negociar.
Com isso fortalecemos a classe trabalhadora, mantivemos os direitos, avançamos em novas conquistas e lutamos pela unidade dos trabalhadores e trabalhadoras como uma classe. Algo que eu acho que temos feito muito bem e vamos continuar fazendo. É um reconhecimento da luta desenvolvida pela CUT no Brasil e hoje estamos exportando este modelo de movimento sindical para a América Latina e para o restante do mundo.
5 – Existem setores que taxam a CUT de estar intimamente ligada ao Governo Federal e por este motivo estaria perdendo a sua essência. O que você acha desta afirmação?
Estas afirmações surgem de outras centrais e de correntes contrárias a CUT por apenas um motivo: na tentativa de crescimento, eles precisam atacar e atacar quem? A maior, no caso a nossa Central.
Trata-se de um grande equívoco, facilmente demonstrado no apoio da CUT e seus sindicatos às greves no setor público, na pressão exercida em projetos como citados nas perguntas anteriores como do projeto de lei da terceirização e a regulamentação da convenção 151 da OIT. Neste momento também ficou evidente a luta da CUT em defesa dos portos públicos.
Apoiamos quando devemos apoiar nos projetos de interesse da classe trabalhadora e da nação, criticamos e protestamos quando devemos criticar e protestar. É simples assim, como sempre foi. Prova disso é o fato de que a CUT mobilizou no último dia 6 de março, em Brasília, milhares de trabalhadores e trabalhadoras pela pauta da classe trabalhadora que está parada no Congresso Federal, como a redução da jornada de trabalho e fim do fator previdenciário, além de outras.
A CUT surgiu para organizar os trabalhadores do campo e da cidade. As feridas e as cicatrizes da nossa luta ficam para sempre, muita gente deu a vida pelos nossos ideais. Ao longo destes anos a CUT segue sendo a maior central sindical do Brasil, da América Latina e a quarta maior central sindical do mundo. Isso aumenta a nossa reponsabilidade para defender o conjunto da classe trabalhadora.