Mais da metade dos processos contra o HSBC envolvem assédio moral organizacional
Dos 1.587 processo ajuizados por ex-empregados do Banco HSBC, entre 2011 e 2013, em 52% há reclamação de assédio moral organizacional. Esta é apenas uma das constatações de uma pesquisa realizada pelo Instituto Declara em parceria com o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região. Os primeiros resultados do levantamento, que está em fase de conclusão, foram divulgados nesta quinta-feira (7) durante o Seminário Métodos de Gestão e Adoecimento dos Trabalhadores, que ocorre em Curitiba.
O presidente do Instituto, o advogado e professor Wilson Ramos Filho, foi o responsável pela apresentação das primeiras conclusões do estudo que avaliou 100% 1.587 movidos contra o banco nos anos de 2011 a 2013. A pesquisa também analisou 3.905 homologações de rescisões que constam nos arquivos do Sindicato dos Bancários desde 2008 até 2013.
“Após quase seis meses de análise, um trabalho hercúleo, identificamos que em 56% das ações há pleito de dano moral, além disso, 52,4% do total de ações têm pedido de dano moral por assédio organizacional”, avalia Xixo.
Nas homologações do sindicato, por sua vez, constatou-se que em 40% dos casos o trabalhador informou que tinha problemas de saúde e deste percentual, 52% relatava ter como origem o estresse e 38% identificava como depressão.
“Esta pesquisa demonstra com dados, de maneira científica, que trabalhar no HSBC causa adoecimento. Assim como nas empresas que pagam adicional de insalubridade nem todos os empregados ficam doentes embora expostos à agentes prejudiciais à saúde, nos bancos nem todos os empregados adoecem por causa dos métodos de gestão, mas todos os bancários estão expostos a risco. Na categoria bancária está comprovado: trabalhar em bancos faz mal à saúde do trabalhador”, enfatizou.
De acordo com o professor, a pesquisa ainda está em fase de conclusão e logo deverá ser publicada e tornada de conhecimento público.
Assédio moral organizacional – Durante a sua palestra, o presidente do Instituto Declatra elencou os três tipos de assédio moral. O primeiro e mais conhecido, o perverso, quando uma pessoa passa a atingir a subjetividade de outra pessoas tentando destruí-la. O segundo é o estratégico, que notabiliza-se pela intenção clara de afastar algum trabalhador, normalmente com estabilidade de emprego em virtude ser um dirigente sindical ou retornando de uma licença de saúde. “Mas estes representam a menor quantidade de casos, são residuais e juntos somam 5% dos casos”, assegurou.
O terceiro deles e mais aplicado é o assédio moral organizacional. Ele funciona em cadeia, com a cobrança sendo generalizada, passando de metas definidas pelo Conselho de Administração que atinge todos os funcionários da empresa. “Nesta cadeia a cobrança faz com que todo mundo seja atingido no meio do caminho, todo mundo vai ficando doente. Alguns com problemas psicológicos e outros com problemas físicos”, observou.
Saúde – Ainda durante o painel “Métodos de gestão e a saúde do trabalhador”, o médico e professor da USP, Laerte Idal Sznelwar, falou sobre o trabalho como um mecanismo que deveria promover a dignidade e o desenvolvimento do ser humano. Contudo, acaba tornando-se um instrumento de desilusão e muitas vezes de doença em virtude dos métodos de gestão adotados pelas empresas e até mesmo órgãos públicos.
“No caso da LER/DORT jovens que não conseguiam sequer pentear o cabelo ou segurar o bebê, ou seja, tarde demais. Em tão pouco tempo de trabalho não só perdia a ilusão, como saia sequelado”, relatou Sznelwar enquanto criticava o tratamento da saúde no ambiente de trabalho.
O médico também criticou os métodos de gestão, falando sobre a indústria e suas operações padrão. Neste caso, costuma-se culpar o trabalhador por eventuais acidentes por não ter cumprido as regras estabelecidas, mas na avaliação de Sznelwar, se estes procedimentos forem cumpridos a linha de fabricação simplesmente não tem a mesma efetividade e o resultado, fatalmente, atingirá o trabalhador que não atingiu as metas.
O setor de serviços também foi criticado pela forma como estabelece as relações de trabalho. “Pelos métodos de gestão modernos eu estou o tempo todo competindo com meu colega, buscando metas que tem um pseudo reconhecimento. Isso é interessante porque é uma ‘desposseção’ da profissão. Embora o termo esteja errado, vou manter”, brincou Sznelwar.
Nesta situação pretende-se retirar da pessoa a possibilidade de se construir e também de auxiliar em uma construção coletiva. “É bem comum ouvir em certos tipos de trabalho que isso não é uma profissão, mas uma ocupação. Tudo que se refere a uma profissão é tudo que aprendemos durante o tempo, para o desenvolvimento como indivíduo e eventualmente uma ascensão na hierarquia, mas não é isso que importa. O que importa é o desenvolvimento profissional enquanto alguém que vai adquirindo mais experiência e competência”, finalizou.
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