Fala, Dirigente! Entrevista com Roni Barbosa
A visão do mundo trabalho e da vida política sob a ótica dos sindicalistas. Este é o propósito do novo projeto do Declatra, o “Fala Dirigente”, que publicará entrevistas com nomes relevantes do sindicalismo.
Nesta segunda entrevista, o Instituto Declatra entrevistou o presidente do Observatório Social e membro da direção nacional da CUT, Roni Barbosa. Ele fala sobre os trabalhos desenvolvidos pelo observatório, trabalho decente e pesquisas no setor.
1 – Quais são os trabalhos desenvolvidos pelo Observatório Social?
O Instituto Observatório Social – IOS, foi criado para desenvolver pesquisas sobre o mundo do trabalho, principalmente em empresas multinacionais e nacionais, relacionadas aos direitos fundamentais dos trabalhadores. É aceito e reconhecido por setores empresariais, governamentais, acadêmicos e pelos trabalhadores. Mas, ao longo dos anos veio ampliando seu trabalho para além das pesquisas, dando apoio ao fortalecimento da organização sindical, capacitação, elaboração de propostas sobre o desenvolvimento sustentável e a utilização de tecnologias da informação. Além de ser um multiplicador de seu conhecimento através de suas publicações técnicas e informativas. O IOS é hoje um laboratório onde se constroem novos conhecimentos e propostas, baseadas em avaliação da conjuntura e da perspectiva futura do mundo trabalhista e sindical, mas principalmente, ouvindo os trabalhadores de todos os setores. Nossa metodologia de pesquisa foi desenvolvida para ouvir os trabalhadores que sentem confiança e passam informações fidedignas para o trabalho. Não é raro as empresas não detectarem aquilo que o IOS ouve e registra.
Temos uma forte ligação com entidades internacionais da Europa e das Américas, como:FNV Mondiaal (Holanda); DGB Bildungswerk (Alemanha); Sask (Finlândia); AFL-CIO (Estados Unidos); Fundação Friedrich Ebert (Alemanha) IndustriALL e OIT – Organização Internacional do Trabalho. Na América Latina, por exemplo, através da RedLat – Rede Latino Americana de Institutos de Pesquisa estamos trabalhando a multinacional Siemens, que atualmente está no centro de denúncias de corrupção no metrô de São Paulo, a empresa atua nos mais diversos ramos, desde indústria no Brasil, serviçosPeru, até como terceirizada da mineração no Chile. E os direitos dos trabalhadores como ficam? Vamos revelar assim que ficar pronto o relatório final, em breve. Os institutos/países participantes são: CEFS (Argentina); CENDA (Chile); CILAS (México); CONFEDEREDAÇÃO SINDICAL DAS AMÉRICA (CSA); ESCUELA NACIONAL SINDICAL – ENS (Colômbia); INSTITUTO CUESTA DUARTE (Uruguay); e PLADES – (Peru).
Na formação de redes internacionais de trabalhadores estamos finalizando um processo envolvendo 11 multinacionais alemãs que possuem fábricas no Brasil, nas áreas química e metalúrgica, em parceria com DGB Bildungswerk (Alemanha).
Na relação sindical temos o programa Conexão Sindical, administrado pelo instituto, que funciona ha mais de 10 anos como uma rede social sindical, para participar basta acessar o site do www.observatóriosocial.org.br e cadastrar seu email. Temos mais de 3mil usuários ativos, sendo muitos internacionais. Lá toda troca de informação é permitida, assim como formação de grupos de debates temáticos.
No combate ao trabalho escravo o IOS faz parte do Comitê do PACTO pela Erradicação do Trabalho Escravo, junto com a OIT, a Repórter Brasil e o instituto Ethos, já temos mais de 400 empresas signatárias, totalizando 20% do PIB brasileiro signatário do projeto. O Observatório Social faz o monitoramento do Pacto através de uma plataforma virtual desenvolvida pelo próprio instituto.
Também temos trabalhos importantes na área da Responsabilidade Social Empresarial, atuamos na elaboração da norma ISO 26000.
Não podemos deixar de registrar as pesquisas relacionadas ao Trabalho Decente.
2 – De que forma os sindicatos e movimentos sociais podem auxiliar no desenvolvimento de pesquisas do Observatório?
O movimento sindical é o principal demandante do IOS. As necessidades dos sindicatos estão ligadas a história do Instituto. Vamos promover um seminário com a participação de sindicalistas para ver quais os desafios futuros do Observatório. Os sindicatos interessados em algum estudo devem nos contatar para verificarmos se podemos atender. Feito isso é só ajustar os detalhes da pesquisa por meio de um contrato simples e iniciar os trabalhos. Temos muitas demandas internacionais, especialmente de centrais sindicais que tem necessidade de conhecer melhor a atuação de suas empresas no Brasil. Além disso, atendemos a governos, e até empresas interessadas em um estudo independente e de credibilidade.
3 – Qual é o grande tema que o Observatório tem trabalhado no momento?
Acredito que quando no referimos ao mundo do trabalho todos os temas são importantes. Mas o trabalho decente tem sido um grande foco de nossas pesquisas. Trabalho Decente é definido como “oportunidades em que mulheres e homens possam obter um trabalho digno, produtivo e em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana”. A própria OIT fixou como seu objetivo central a promoção de um trabalho decente para os trabalhadores em qualquer parte do mundo.
Desde 2006 o IOS acompanha, promove e participa das atividades em torno da Agenda Nacional do Trabalho Decente. Concluímos em 2011 indicadores próprios, aplicados nas pesquisas que o IOS realiza desde então. A construção destes indicadores foi muito importante, pois permitiu que houvesse um monitoramento do déficit de Trabalho Decente mediante pesquisas, comparando realidades distintas no que se refere as condições de trabalho, disponibilizando mais uma ferramenta para a ação sindical e, simultaneamente ao processo de pesquisa, difundindo o conceito de trabalho decente entre trabalhadores e organizações sindicais.
4 – Quais são os estudos do Observatório na área do Trabalho Decente e que conclusões eles podem nos dar?
Fizemos nos últimos anos várias pesquisas de trabalho decente nos setores da construção civil, hotelaria, têxtil e calçados e trabalho doméstico. Como exemplo cito a pesquisa demandada pela FNV e apoiada pela Contracs – Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços, que tinha muita dificuldade de negociação na empresa C&A. Depois da publicação desse estudo foi gerado um Termo de Compromisso da empresa com a Confederação, que estabeleceu alguns ajuste, entre eles:
Fizemos nos últimos anos várias pesquisas de trabalho decente nos setores da construção civil, hotelaria, têxtil e calçados e trabalho doméstico. Como exemplo cito a pesquisa demandada pela Contracs – Confederação Nacional dos Comerciários da CUT, que tinha muita dificuldade de negociação na empresa C&A. Depois da publicação desse estudo foi gerado um Termo de Compromisso da empresa com a Confederação, que estabeleceu alguns ajuste, entre eles:
1. Alterar a nomenclatura dos cargos de todos os empregados que desenvolvem a função de operador de caixa;
2. Estabelecer locais nas empresas para que empregados possam ter acesso a informativos dos sindicatos destinados aos trabalhadores;
3. Instalar bancos nos locais de operação de caixa para que trabalhadores possam sentar nos intervalos de folga – acordo feito com sindicatos filiados a Contracs.
5 – Qual é o grande desafio da sua gestão a frente do Obsevatório?
Queremos avaliar e fortalecer a imagem institucional do IOS, vamos investir em novos canais de comunicação e novas estratégias para consolidar a divulgação dos nossos trabalhos.
A executiva do IOS pretende divulgar ainda mais o instituto no movimento sindical brasileiro, especialmente na CUT, ampliando as parcerias com ramos, federações, confederações e sindicatos.
Se conseguirmos posicionar o IOS na sociedade brasileira como referência na área de pesquisa nacional teremos cumprido bem a missão que já é reconhecida internacionalmente. O que não deixa de ser um contra-senso, somos mais reconhecidos fora do Brasil do que aqui dentro. Para isso queremos a participação maior dos sindicatos no Conselho Diretor, voltaremos a reuni-lo cotidianamente. Queremos também ouvir a opinião dos demais integrantes do Conselho Diretor do Observatório, o Dieese, o Cedec e a Unitrabalho. Queremos colocar em pauta a participação de outras entidades na Direção do IOS.
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