Desigualdade social continua a crescer
Distribuição de renda. Esta foi a pauta do Declatra na Cultura, transmitido todas as terças e quintas-feiras, na Rádio Cultura de Curitiba, AM 930, ao meio-dia. Com a participação de Mirian Gonçalves, Ricardo Mendonça, Felipe Mongruel e apresentação de Mariane Antunes, este episódio tratou dos problemas envolvendo a desigualdade social.
Durante o programa foram analisados dados que apontam para o crescimento da concentração de renda. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento mensal da fatia 1% mais rica da população brasileira, atingiu em 2018 o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres do país. É um patamar recorde dentro da série histórica avaliada pelo PNADC.
Na prática, isso significa que o chamado 1% da população mais rica, com um total de 2 milhões de pessoas, teve rendimento médio de quase R$ 30 mil por mês. Enquanto isso, no outro extremo, os 50% mais pobres, ou seja, mais de 100 milhões cidadãos, receberam R$ 820 por mês.
O receio dos participantes do programa, é que os ataques à democracia, ampliem ainda mais essa distância entre os ricos e os pobres. “Em regimes autoritários, especialmente na América do Sul, os dados mostram que quando não há liberdades, instituições funcionando e garantido as pessoas o direito de ir e vir, de falar, de garantir uma democracia ao menos no caráter formal, temos sempre as pessoas passando dificuldades, fomes, morrendo pela ausência de elementos básicos para sua subsistência”, afirmou o advogado Ricardo Mendonça.
A fábula de que durante a ditadura militar no Brasil existia distribuição de renda também foi criticada. “Ouço pessoas, que deveriam ser até mais informadas, dizendo que não existia corrupção. Na verdade, não podia era falar e investigar. Há pesquisas sérias que mostram que 1970 foi quando começou o agravamento da distribuição de renda. Até 1977 o ajuste econômico prejudicou ainda mais a classe trabalhadora. O milagre econômico foi para o rico, não para o pobre. Tenho ouvido nas semanas que se passaram algumas pessoas falando que a última década foi perdida. Por que? Houve investimento para diminuir a desigualdade social. Foi quando o pobre entrou no orçamento e agora ele voltou a sair das prioridades das políticas públicas”, esclareceu a advogada Mírian Gonçalves.
“O Brasil está atrás do Quatar. Com indústria desenvolvida, com meio rural importante, que exporta, mas que mantém seus trabalhadores cada vez mais pobres. Não adianta vir com o dado de que aumentou a ocupação. Pode até ter aumentado, mas o rendimento das famílias está cada vez mais baixo. Há agravantes como o fato do salário mínimo, que é uma das formas de reduzir desigualdade, parou de ter aumento real e chegou a ter decréscimo. Em 2017 e em 2018 ficou abaixo da inflação”, completou.
A situação no mundo não é muito diferente. Em 2019 os bilionários que somam apenas 2.153 pessoas somavam mais riqueza que 4,6 bilhões de pessoas. Esta foi a conclusão do estudo “Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade”, da Oxfam.
O mesmo relatório mostrou que pela primeira vez em 15 anos a redução da desigualdade no Brasil ficou estagnada. No caso das mulheres, pela primeira vez em 23 anos, a renda retrocedeu em relação aos homens.
Alguns dos fatores apontados para estes retrocessos sociais são os modelos políticos e econômicos. O retorno, com força, do neoliberalismo, é um dos motivos. Este modelo que cresce em diversos países do mundo, tem como objetivo a concentração de renda e os ataques aos direitos sociais e à proteção ao trabalho. Por outro lado, a social-democracia, que tenta humanizar o capitalismo e propondo a direitos sociais em troca da pacificação social, está reduzindo seu espaço no campo político e econômico.
“São os efeitos do neoliberalismo. Não à toa ganhou o Parasita e documentário Fábrica Americana ganharam o Oscar. Isso é uma reação. A arte e a cultura são transformadoras da realidade. O neoliberalismo coloca o investidor e não mais o produtor como cerne da economia”, argumentou o professor de filosofia Felipe Mongruel.
Ameaça – Durante o programa, os participantes também avaliaram a nova ameaça à democracia brasileira com o Presidente da República convocando atos contra o Congresso Nacional. “Quem pode estar no poder e por qual razão o presidente da república compra essa briga com o Congresso nacional e com o STF, que, além de tudo pode julgar o impeachment tanto do presidente quanto de senadores?”, questionou Mírian Gonçalves.
“Fato é que o Presidente da República não tem apreço pela democracia, não está a altura do cargo que ocupa, mas serei mais objetivo: a democracia brasileira acabou em 2016 com golpe que depôs uma presidenta legitimamente eleita. Disputou as eleições sem impor censura de ninguém participar do processo eleitoral. Ele é a personificação do ‘tiozão do churrasco’, acha que pode dizer qualquer barbaridade e cometer crimes de responsabilidade sem que isso imponha a responsabilização dos seus atos” criticou o advogado Ricardo Mendonça.
Ainda segundo ele, os valores democráticos incluem a liberdade para a classe trabalhadora se organizar para melhorar as condições de vida e de trabalho. “A democracia é o único regime que pode permitir ao trabalhador luta por melhorias nas condições de vida. Vamos voltar ao orçamento voltado para os mais ricos. É importante que mostremos a ele que está presidente república e que ele precisa respeitar as instituições. Sem isso, amanhã talvez não possamos mais falar. Não apenas nós, mas todos”, completou.
O professor Felipe Mongruel também seguiu pela mesma linha crítica. “É mais um crime de responsabilidade. Eles estão previstos na Constituição Federal. Ele não tem qualquer apreço pela democracia, pela leitura, pela cultura, pelo estado social, políticas públicas e pela realidade do brasileiro. É absurdo chamar as pessoas para irem para a rua para fecharem o congresso e o STF”, argumentou.
O Declatra na Cultura é transmitido todas as terças e quintas-feiras, ao meio-dia, na Rádio Cultura de Curitiba. Você pode acompanhar o programa ao vivo pela AM 930, pelo site, pela Fan Page do Instituto Declatra ou da própria Rádio Cultura .
Confira o programa desta quinta-feira (27) na íntegra
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